sexta-feira, 22 de agosto de 2008

METAGEOGRAFIA

Matéria da revista "Discutindo Geografia" com a premiada geógrafa Ana Fani Alessandri Carlos, à respeito da sociedade urbana.





Colaboração do futuro colega Wander Souza.




2 Comments:

Anônimo said...

Excelente reportagem!
Destaco a sguinte frase: "... Eu defendo um modo de pensar a realidade urbana como possibilidade de pensar sua transformação dentro de um projeto de sociedade que inclui a crítica ao Estado e a negação do capital como processo civilizatório. As exigências de uma vida plena, criativa, desalienada, sem guerras, passam pela crítica sem tréguas ao capitalismo."
Deve ser por causa desse modo de pensar que "detestam" os geógrafos...
Leonardo Lemes

Anônimo said...

A Ana Fani é muito boa no que escreve, na sua capacidade de levantar e delinear os problemas da realidade sócio-espacial. Ela o faz lançando mão de um ferramental teórico crítico-marxista, como se percebe pela linguagem de sua entrevista e pelas idéias exaradas em seus livros.

Que a sociedade está em crise, os marxistas já o descobriram há muito tempo, sem que para ela tenham sugerido qualquer solução satisfatória. O que eu não posso concordar com a Ana é que a Geografia esteja em crise. Que é isso? Se me dissessem que a Geografia vivenciou profundas crises epistemológicas desde os anos 60 até os estertores da década de 90, eu concordaria em 100%. Mas hoje?

Graças às recorrentes crises existenciais que pareciam ser intermináveis, a nossa Ciência Espacial, no papel dos seus pesquisadores e intelectuais - que não se resumem a geógrafos -, foi capaz de construir uma rede ampla e complexa de novas teorias e incorporar um vasto arsenal de inéditas ferramentas tecnológicas dinâmicas, que se aperfeiçoam a cada dia. Por conta disso, o poder de explicação da realidade da Geografia galgou um patamar superior ao de TODAS as demais ciências sociais. Veja-se a Sociologia? Que fim deu nessa ciência? Ela se esvaziou. Perdeu espaço para a Antropologia. E a História? Por pouco não foi para as cucuias. Principalmente depois da Perestroika. Basta lembrar o título do livro do Fukuyama: "O Fim da História".

Agora, querer dizer que a Geografia ao incorporar o paradigma ambiental se naturalizou e com isso desandou?! Dizer que essa é a causa dela permanecer em crise, ora, isso é francamente uma heresia!

Nenhum abraço foi mais caloroso e fecundo do que esse entre a Ciência Geográfica e o Meio Ambiente. E não apenas pra combater poluição global ou nos territórios, não. Principalmente para alimentar a crítica à natureza perversa do sistema, tendo esse o nome que cada um lhe queira dar: capitalismo, capitalismo selvagem, sociedade de consumo, sistema global, etc. Por seu turno, a parceria prolífica da Geografia com as ciências da(s) cultura(s), acrescentando o espaço às suas explicações tradicionais e trazendo as teorias do comportamento humano e da cultura para o campo espacial, tem trazido grande potencial para descortinar a natureza e as mazelas do sistema, segundo outros ângulos: o da sociedade do espetáculo (Guy Debord), da aldeia global (MacLuhan) ou simplemente do mundo (visão espiritual).

Entendo que hoje não existe, no campo das ciências pretensamente totalizantes (se é que esse termo ainda é possível, depois de tanta descoberta científica), nenhuma ciência capaz de abrir tanta explicação como a Geografia. Muito mais que a própria Economia, com a diferença que essa última permanece objetivando muito mais, por uma série de questões, dentre as quais a de sobrevivência e a da busca de sentido para a vida material, ambas ainda não resolvidas.

Portanto, discordo da Ana Fani nesse aspecto porque não admito que uma ciência como a Geografia, com todos os recursos teóricos e tecnológicos que tem alcançado, que cada dia mais se aproxima de atingir o status de uma Medicina ou Direito na capacidade de conferir tratamento individual às questões, possa continuar sendo vista como uma ciência em crise. Em aperfeiçoamento, sim. Crise, não mais.

Quem está em crise faz análise. A Geografia é uma ciência de síntese.

Leandro Lopes - professor