LEU NA VEJA? AZAR O SEU.

Na edição do dia 22 de agosto essa revista semanal da editora Abril se superou, divulgando em uma ampla reportagem verdadeiros absurdos a cerca da educação no Brasil. Em primeiro lugar já adianto aos paranóicos de plantão que reconheço que o problema da educação no Brasil é crônico e a culpa está em todas esferas do poder público. Uma coisa é reconhecer os problemas e buscar soluções, outra coisa é querer passar para a população a imagem de que os professores é que são os culpados.
A revista Veja sem mais nem menos, esculhambou com os professores, sobretudo com os de História e Geografia, dizendo que esses profissionais estariam doutrinando os alunos com teses esquerdistas. Quando a revista afirma, peremptoriamente que “a doutrinação esquerdista é predominante em todo o sistema escolar privado e particular, é algo que os professores levam mais a sério do que o ensino das matérias em classe” ela além de colocar todos os sofridos e corajosos profissionais do ensino no mesmo saco, afirma algo surreal. Será que a análise das mudanças no espaço geográfico sob a égide do modo de produção capitalista, aquela que aprendemos na faculdade e que estão nos livros didáticos e que estão principalmente nas ruas das nossas cidades, trata-se de doutrinação esquerdista?
A revista Veja acha que os professores defendem à exaustão teorias como o marxismo, leninismo, socialismo, comunismo, etc. Na minha ótica, esses temas, além de serem de suma importância tanto o seu conhecimento e compreensão, são trazidos à tona, às vezes com um certo ar ideológico, justamente pelo fracasso que o sistema capitalista, adotado globalmente, demonstra. A disparidade social, clara e evidente – só cego não vê – é a pior das mazelas do capitalismo.
Mas o maior absurdo de todos, sem dúvidas, foi a pérola divulgada sobre o educador Paulo Freire. “Os professores idolatram personagens arcanos sem contribuição efetiva à civilização ocidental, como o educador Paulo Freire, autor de um método de doutrinação esquerdista disfarçado de alfabetização”.Sinceramente, não é possível que alguém em sã consciência leve a sério essa frase. “A obra de Paulo Freire é reconhecida internacionalmente. Ele criou um modelo de educação crítica que tem impactado a formação docente a também a política educativa em muitos países” Afirma Carlos Alberto Torres, professor da Universidade da Califórnia, Los Angeles. Educação crítica. Isso é que incomoda algumas pessoas. Afinal qual é o profissional com maior senso de criticidade com relação à sociedade, do que o profissional da geografia ou da história? Isso também incomoda muito. Chamar Paulo Freire de arcano esquerdista, é no mínimo uma tentativa fracassada de distorção da realidade.
Quanto aos “erros” dos livros didáticos, apontados pela reportagem, eu poderia ficar aqui gastando vários caracteres rebatendo esses apontamentos, porém essas considerações apenas aludem a posição nítida da revista. Porém o que se estranha é a aceitação de certa parte da sociedade em receber as publicações da Veja como isentas e difusoras da realidade nua e crua do nosso país. Acho que é por isso que ela abomina o estímulo à criticidade, tanto dos geógrafos como dos historiadores e freirianos. Creio que a posição da Revista Veja, hoje como ontem, continua firme na defesa da sua ideologia neoliberal, que, segundo Freire, nega o sonho e a utopia. É melhor esta posição firme do que a aquela que se esconde sob o manto de uma pseudo-neutralidade.

Reportagem da Veja: http://veja.abril.com.br/200808/p_076.shtml

Leonardo Lemes - Colunista